sábado, 18 de agosto de 2007

Simpsons, o Filme.

Eles já viajaram para a Inglaterra, o Brasil, a Austrália, a China, o Canadá, etc. Já foram à praia, à floresta, ao rio, moraram em outras cidades. Já foram ao inferno e ao céu (literalmente). Já conheceram Ramones, Michael Jackson, Madona, REM, Bill Clinton, Mel Gibson, Steven Spilberg, The Who, Paul McCartney, Paris Hilton, e tantos outros. Já foram astronautas. Já salvaram o mundo, já entraram em guerra com golfinhos, já foram perseguidos por assassinos seriais, já ganharam concursos, se transformaram em chupeta (!), Einstein, Bruxa, Esqueleto, Homem - sem - cabeça, Lobisomem. Foram Harry Potter, presidente americano, foram ao futuro e ao passado. Conheceram ETs... A lista de situações vividas ao longo de 18 anos pela família Simpsons é infinita. A Antologia de cenas hilárias também. Como, nesse caso, conseguir algo novo com o longa? Não conseguiram.

Com pouco menos de 90 minutos, o filme parece, para qualquer um que conheça bem a série, um bom episódio alongado. Ou uma trinca de episódios seqüenciados exibidos de uma só vez. Não que pudéssemos esperar grandes viradas históricas. Qualquer descuido dos inúmeros roteiristas da película, poderia resultar em complicações para a continuidade natural do programa. O Moe, para esclarecer meu raciocínio, não poderia morrer, com o risco de não podermos contar com o barman turrão na sequência da série. Com isso os personagens agem como sempre agiram, nada que fuja ao costume. Parece que o único propósito do longa foi o financeiro. Natural para aquela que é, sem dúvida, a mais importante e premiada série animada da história da televisão mundial.

Ao menos, o humor venenoso se mantém. Nada que não apareça a cada minuto nos episódios da TV, mas sempre delicioso. O melhor exemplo é justamente a primeira cena do filme. Toda a cidade de Springfield assiste no cinema a um longa de 'Comichão e Coçadinha'. Revoltado, Homer se levanta e dispara: "por que eu tenho que pagar uma nota pra ver algo que passa todo dia na TV de graça? Todo mundo aqui nesse cinema é idiota." e apontando para a "câmera" completa: "inclusive você". Uma jogada de mestre dos roteirista, muito provavelmente pensada após o conclusão do texto. Devem ter percebido que não passava de um episódio corriqueiro da série, e optaram por declarar isso já no início. Acertaram. Não bastasse isso, no meio da projeção tudo escurece e aparece o letreiro "to be continue"... e segundos depois "immediately". Como se estivéssemos realmente diante de episódios integrados, e não de um longa. Prova cabal de que não deveríamos nos enganar. É o mesmo Simpsons da TV.

Outra questão séria, essa mais nossa, é o fato de que a Fox do Brasil não conseguiu acertar as bases financeiras com Waldyr Sant'Ana, o dublador oficial de Homer e Vovô. Triste, pois até as cenas conhecidas pelos trailers, dublados antes desse problema (em especial a do Porco-Aranha e a do telhado), parecem menos engraçadas sem a voz de Waldyr no filme. Um detalhe que, perdão pelo clichê, fez toda a diferença.

Mas vale bastante a pena. Como diversão é um prato cheio. Com takes mais amplos (graças ao formato WideScreen dos cinemas) as cenas ganham uma maior agilidade e permitem o jogo com vários personagens ao mesmo tempo. Sacadas políticas e filosóficas são rotina. As costumeiras referência metalingüísticas também estão presentes, como as duas que citei acima. Os moradores de Springfield aparecem todos. Dos personagens mais importante, senti apenas a ausência de Sideshow Bob, que poderia ser muito bem aproveitado no terceiro ato. Os convidados também dão as caras: Schwarzenegger como presidente, Green Day como músicos ativistas, etc. Nenhum recurso que já não supuséssemos, mas todos bem utilizados e necessários. Por isso, não é depreciativo dizer que o filme repete a fórmula da série de TV. Pois se essa beira a perfeição, aquele deveria ser exatamente isso: um prolongamento da genialidade de Matt e sua turma. Nós Simpson-maníacos sentimos apenas que não fomos surpreendidos. A surpresa foi justamente a existência do filme, após longos 18 anos de espera. 18 anos esses que permitiram aos roteiristas praticamente todas as possibilidades de exercício criativo, não parecendo ter sobrado muito espaço para mais novidades na telona.

Olhando assim até parecem comportados...

sábado, 11 de agosto de 2007

"Zé, você é o professor mais lélé"

"Do muito que tenho corrido, pouco tem sobrado para escrever. Os poemas, vá lá, faz-se entre os goles de café. As crônicas (por mais que me alertassem os bestiais, só acreditei depois de Verbalizações) demandam um tempo que não tenho".

Pensei em começar esse texto com o parágrafo acima, depois eliminei, e trouxe de volta, por fim, para as devidas explicações. Mesmo sendo um ótimo "eximir-se", ele não diz verdades, e se fosse para mentir, continuaria nas ruas. Aqui residirá somente o que sinto e penso das coisas, com toda sinceridade, um pouco de modéstia e muita humildade que só têm servido para que me chovam confetes que não peço, mas gosto. Sim, esse é meu lar e redenção, cama e massagem.

Na verdade a culpa é de Jade, Bergman e Michael Bay. Com a empolgação natural de toda novidade, me propus a fazer o que fosse necessário para que esse espaço agradasse. Travei contra minhas imperfeições a mais árdua das batalhas. Saí de cada nova postagem um pouco mais fraco. E agora, ao relê-las, acredito que o resultado foi o esperado, elas estão realmente boas! Eis a questão: não sei se serei capaz de escrever novamente com a beleza primaveril de a pouco. Por isso a dificuldade em verbalizar novamente. Coloco idéias na cabeça e no papel, nada! Talvez a solução fosse abandonar a caneta e buscar a enxada. E, com ela, "cavar até encontrar um coração". Minhas linhas andam sem coração, sem coragem, sem emotividade.

Coração que só bate cada vez que volto ao tablado para uma nova empreitada como professor. Não sei qual é o melhor emprego do mundo. Porque ser professor não é emprego, é vocação. E ainda que tratado comercialmente, só seria o meu melhor trabalho. Só posso afirmar que as respostas para todos os problemas e dúvidas está nos rostos infantis que me observam e sorriem, que olham para mim sem o mínimo pudor em dizer que me amam, que me respeitam, que me admiram. Os alunos mais velhos são irmãos mais novos que eu cuido para não deixar nos desvios, mas as crianças são os filhos que eu quero, mas nem sei se terei.

Coragem para posicionar-me acima do incerto. Dizer no rosto o que penso, e não disfarçar. Negar o que me prejudica sob a alcunha de desafio. Viajar sem dinheiro, para viver o que apenas leio e ouço. Xingar menos, gritar menos, beber menos. Correr mais, cantar mais, escrever mais. A coragem é um artifício tão poderoso quanto o disfarce. Mas enquanto esse te joga no arrependimento da não-vida, aquele te projeta no arrependimento da mal-vida. É uma utopia pesada, pensada e passada. É quase a não-poética.

Emotividade, se falta nas linhas, não falta fora delas. Confesso que tenho "quase chorado" diariamente. Não por dramas e vicissitudes próprios. Desses cuido na luta, no disfarce ou na esperança. Tenho quase-chorado pelos que, assim como eu, se precipitam em dias melhores, em sonhos realizados, em tempestades de benevolência. Quase chorei com minha Jade, quase chorei com o Clodoaldo Silva (meu herói máximo no que concerne o superar-se), quase chorei com a doação de computadores para um projeto social, quase chorei com o poeminha da aluninha Bárbara, quase chorei com a esperança do aluninho Fernando em dias mais legais (a frase "cavar até encontrar um coração" é dele), quase choro a cada novo comercial sobre dia-dos-pais. E lágrimas hão de rolar, de alegria, que fique bem claro. Tristeza é para quem tem tempo.

Ao que parece tenho vivido (muito e bem), ainda bem. Essa é a resposta Kim. Essa é a resposta Karol. Vocês têm motivos suficientes para não precisar escrever como eu: vida pra viver. Motivos demais, como os meus em quantidade, diferentes na qualidade. Portanto, e para que suas palavras estejam sendo colocadas apenas para a pessoa certa, continuem vivendo, deixem que eu escreva, a cada quinze dias, quando eu dou uma parada nesse vida corrida que aprendi a adorar. Talvez, no futuro, eu também não escreva mais aqui. Talvez eu tenha o mesmo bom motivo de vocês, nem é preciso esclarecer.
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Image Hosted by ImageShack.usEm tempo: Quero fazer um agradecimento especial a todos aqueles senhores que, com seus trabalhos, tornam os meus trabalhos mais simples. Falo dos comediantes que têm contribuído, de uma maneira ou de outra, para aliviar a tensão natural no dia-a-dia do pequeno burguês. Peço a todos que fiquem de pé e saúdem com uma enorme salva de palmas: Roberto Gomes Bolagnos, Zach Braff, Colin Mochrie, Jim Carrey, Luís Inácio Lula da Silva, Diogo Mainardi, Rodrigo Scarpa, Wellington Muniz, Homer Simpson, Galvão Bueno, Charles Chaplin, Jerry Seinfield, Jerry Lewis, Steve Carell, Sacha Baron Cohen, Lucas Ferreira e Deus.

sábado, 4 de agosto de 2007

"Sozinho" (para relembrar)

O sol acabara de se pôr. Eu, para variar, escolho um bar mais afastado de casa. Anseio algo diferente. Caras novas. Um atendente se aproxima, descobrindo um cliente novo. Gentil como se deve ser em casos assim. Peço uma cerveja. Não demora nada. Começo a rabiscar frivolidades num papel. Quem sabe um novo poema não me venha, um esboço de crônica. Já não se paga tão bem aos que vivem de escrever. Mas como não sei – e não quero – fazer outra coisa, continuo. Um gaitista sola triste, numa mesa próxima à minha. O bar ainda está vazio. Pergunto se é sempre assim, o mesmo atendente explica: “daqui a pouco isso aqui tá lotado, moço. O happy-hour daqui é famoso”. Peço desculpas pela ignorância e o dispenso. Chega um rapaz. Corpo franzino. Senta-se sozinho no balcão. Cumprimenta o barman e pede algo para beber.

Já é noite escura. Dessa mesa, o pouco que vejo é seu corpo minguado atirar para o lado que aponta. Por quê? Que estranha é essa necessidade de se ter alguém? Embebido em promiscuidade e carinhos passageiros. Uma garota se aproxima. Sozinha. Ele oferece uma cadeira. Um copo. Aproxima a boca feia do ouvido. A cena é ridícula. Não pelo que diz. Não escuto. Mas pelo rosto enfadado da moça. E pela diferença quase cômica de altura. Se recostasse um pouco mais, julgaria por miopia que um filho quer a atenção da mãe. E não deixa de sê-lo. Pelo menos assim parece. Um ser pequeno e solitário. Como o são quase todos os que, desprovidos de qualidades físicas, apelam a uma retórica de conquista. Que não funciona, pois não domina.

Troveja alto. Esqueço a cena por um momento, embora com olhos fixos para aquele lado. Peço outra cerveja. Esboço um retrato no guardanapo. Não sei se por cansaço ou falta de interesse. Certo é que congelo a cena e tento expressá-la em traços leves, ruins na verdade. Sou atrapalhado pelo constante balançar do corpinho desesperado. E pelo recostar-se, fugir, da garota. Acuada a um canto que parece único. O que ela ainda faz ali, desconfortável? Não é como andar na chuva – e agora chove fino – em uma rua larga e sem cobertura. Quero levantar-me. Não para o aparte. O que me constrange e agora aflige é que a infeliz não some. Não arreda. Dá esperanças que não existem a um garoto que dela necessita, ao que parece. Queria não estar aqui. Mas não posso lutar contra a vontade de saber o desfecho. Talvez para um dia poder contar a história inteira. Aquele rosto de desprezo. Aquele rosto...

A chuva aumenta, não posso mais sair, ou não quero. Peço algo para comer. Outra cerveja. A luta continua. A moça não muda. O rapaz, esse sim, parece tentar outra coisa. Afasta o corpo. Pede duas bebidas. Bebe rápido. Parece comigo, quando as palavras faltam e vou ariscar-me na embriaguês. “Parece comigo”. É quando isso me vem à cabeça que percebo toda a atração da cena. Vejo-me de fora. Vejo-me naquele eterno sussurrar infrutífero de sempre, de quem não sabe o que faz. Começo a reparar mais na moça, já que do rapaz adivinho todos os atos. A cara de enfado aos poucos se dissipa. Ela começa a falar. Agora é ele quem não reage. Gestos amplos, sorrisos e goles. Dialogam enfim, o clima é ameno. E aquele ímpeto inicial? Onde estará?

A chuva diminui, percebo. Ele pede a conta e paga tudo. Ela não esboça qualquer reação contrária ao gesto, parecia antevê-lo. De repente se levantam. Sorriem, dão-se as mãos e saem, sem nada dizer. Pude ouvir uma risada espontânea já na porta. Com certeza o rapaz pensa que conseguiu, enfim. Mas aquilo me incomoda ainda. O que terá ele dito? Feito? Como foi que se deu? Dirijo-me ao balcão. Chamo o barman que os atendia. Questiono: “conhece aquele dois?”, “sim, casados, vem sempre aqui”, “discutiam?”, “besteiras, coisas do trabalho deles, sempre passam aqui antes de ir pra casa”. E foi como se o meu dia piorasse. A chuva acaba. Reconheço que o problema está em mim. Eu sempre junto à minha solidão. Pago a conta e saio pensando: “sou mesmo um idiota”.

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