domingo, 23 de setembro de 2007

Por favor, cuidem dos desesperados!

Os mais próximos sabem exatamente o que aconteceu no último 11 de setembro. Não! Não é o que você está pensando. Osama não aprontou nada novo. Continua tingindo a barba e exaltando em vídeos o heroísmo muçulmano de há seis anos. Falo precisamente do que ME aconteceu na tal data! Se estou sendo testado, se recebi um alerta, se deus me carregou no colo, se não era minha hora, se eu gostasse de axé, se a união soviética vingasse, não sei. Nenhuma resposta me foi dada, nem a quero. Garanto, porém, que minha terceira vida começa diferente das anteriores. Começa de onde as outras pararam, vai até onde as outras tentaram, aprende com os erros que as outras erraram, no fim é tudo a mesma... Não, não é.

Na primeira, ainda banguela e careca, eu me restringia a mamar e chorar. Meu pai, recém casado, esperando uma vida inteira acontecer, com 19 anos de idade, devia olhar pra mim e pensar: "esse cara de joelho vai me dar trabalho. mas será o meu trabalho, né josé neto?"Infelizmente não pudemos provar, não é seu Amir?

Na segunda, imaturo e precisando errar, eu me restringia a beber e falar mal das pessoas. Minha mãe, viúva experiente, esperando apenas que a vida continuasse vida, com seus 40 anos, devia olhar pra mim e pensar: "esse cara do pai dele está me dando trabalho. mas é o meu trabalho, né zé neto?" Infelizmente é verdade, não é dona Elza?

Na terceira, trabalhador e consciente, eu me restrinjo a não mais beber ou fumar. Eu mesmo, cansado da "não poética" da vida, esperando uma luz no fim do túnel, com meus 24 anos, devo olhar para dentro de mim e pensar: "esse cara de bunda tem muito trabalho. mas é o meu trabalho, né zé(d's)?" Com certeza sim, não é José?

Curioso que as minhas três vidas começaram no hospital, com sangue e lágrimas. Histórias de Hospital que o Paulo ainda não contou. Parece que se eu me der ao trabalho de aprender a tocar algum instrumento vou ajudá-lo a compor uma rapsódia falando sobre tudo isso, mas sonhos, sonhos são. E eu, que há muito sonho são e sóbrio, soluço essa crônica apenas para que, externado todo esse sentimento de empate, possa continuar, agora de uma vez por todas, minha terceira, longa e, quem sabe, feliz existência. Se a felicidade nasceu morredoura não sei, mas nasceu. Entre outras coisas, e principalmente, nasceu por trás de óculos novos, olhando outros óculos (rubro-negros) contornados por um rosto que é, esse sim, estética, poética, enfim... Explicações demais desmentem a própria beleza.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Capítulo CLXI: Das Perdidas

Mas esse capítulo é todo de Perdidas. Nada do que disser será novidade, escrevo apenas para avisar que não contarei de minha viagem para Ilha Solteira, como seria natural, descrevendo o álcool, a música e a areia. No lugar, falarei das coisas que eu perdi estando lá, perdido. Perdi o décimo segundo Grand Slan e mais um show do Roger Federer, além da vitória da não menos espetacular Justine-Henin. Perdi a visita mensal de meu irmão, cada vez mais sem tempo pra nós aqui em Marília. Um cara especial, meu amigo, mas não tenho tido tempo nem para dizer isso a ele. Perdi a medalha de bronze da minha amada Jade Barbosa, no mundial de ginástica de Stuttgart, e eu já a amava quando perdia, agora que está ganhando, todo amor é mais fácil. Perdi um ônibus para São Paulo quase de graça. Perdi alguns neurônios. Perdi a noção. Perdi tempo perdendo chances de me perder, como nesse fim de semana, perdi contato... Perdi...

Dito dessa maneira, alguém diria que saí desse fim de semana sem nada de proveito, e pensará mal, mas só percebi isso ao chegar a esse lado da verdade. De tudo que perdi, tem algo que perdi e que me deixa com um saldo bastante positivo. É a última perdida desse capítulo de perdidas: Perdi dinheiro! Não economizei um centavo na tentativa de aliviar o legado da nossa miséria.

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Image Hosted by ImageShack.usEm tempo: Meu filho vai chegar até mim, com uns dez anos e fazer comentários sobre algum jogador de tênis. E eu, como todo pai chato, vou responder: "Você não viu nada, você não viu o Federer jogando". Mas nesse caso estarei apenas sendo sincero. Com apenas 26 anos, Federer já o maior tenista de todos os tempos. Possui um arsenal de golpes de direita e de esquerda, com um backhand tão limpo que parece improvável. Com um técnica que se adapta bem a diferentes tipos de quadra, já conquistou 12 torneios Grand Slan (5 Wimbledon, 4 US Open, 3 Austalian Open). E a cada ano está mais forte no Saibro, seu ponto fraco. Ainda assim já é o segundo melhor tenista nessa superfície. Talvez no ano que vem a profecia se inverta, e Federer supere Nadal em Rolland Garros.

sábado, 1 de setembro de 2007

Kitsch and Hype (Conscience and Decadence)

Cada nova exigência de concentração é um passo rumo à completa incapacidade em se concentrar. Cultura de massa, modismo, semi - formação, resumos de Internet, macetes, edições comentadas e manuais de funcionamento. A crise do indivíduo é social, antinomia natural. Vive-se o tempo da contradição. O indivíduo não se concentra, o "público distraído" nunca tão distraído. A arte, por muitos julgada emancipadora, desfaz-se em duas, não melhores uma em relação à outra, diferentes na forma, idênticas nos problemas que apresentam. E criam, para que as consumamos, dois grupos de "apreciadores" (leia-se: receptores passivos) também diferentes. São dois os caminhos da arte, que a tornam a ausência de si mesma.

O Primeiro, mais comum, todos conhecemos e insistimos que ("ai se fosse o meu!") não é digno de ser considerado caminho artístico. E o é. O que Beyoncé, Michael Bay, J. K. Rowling, tem em comum? Todos acreditam estar criando arte, de fato. A música, o cinema, a literatura, reproduzem hoje, ainda que veladamente, ideais de consumo e controle que esses artistas assumiram como verdade. O fazem sem medo, não duvidam da própria inteligencia, mas da do público "consumidor". O que podemos fazer? Coisa alguma. Melhor uma criança que lê Harry Potter do que uma que nada lê. Queria eu que todos os adolescentes do planeta tivessem o prazer de assistir a Transformers num sábado à noite, quando sei que a grande maioria perde-se em maneiras de matar a própria fome.

O Segundo, virtuoso do mundo alternativo, se auto-intitula superior. Discorre sobre sexo, drogas, triângulo amoroso, pobreza, magia e violência (mas os outros também!), a temática do vencido ou a do vencedor? Tanto faz, como tanto fez! O Segundo propõe a crítica que o mundo do consumo aprendeu a se auto propor ("se você não faz escolhas óbvias, deve dirigir o mesmo carro de 50 mil reais que eu" é o mesmo que "todo mundo aqui nesse cinema é idiota, inclusive você"). Morrissey não é melhor que Beyoncé, Paul Thomas Anderson não é melhor que Michael Bay, Ferreira Gullar não é melhor que J. K. Rowling. E não são melhores porque, ao fazer a crítica, tornam-se herméticos demais para insurgirem emancipadores, restringem-se a um público que deles não necessita, ao menos como pedagogia. Em outras palavras, arte emancipadora é arte de elite intelectual, elite intelectual é emancipada por vias outras (questionamento filosófico, leituras políticas, engajamento, influência familiar, sorte, etc.). Quanto mais queijo menos queijo! Não bastasse isso, explodem cópias dessa pretensa arte melhor. Cópias que se produzem aos moldes da industria descrita no parágrafo anterior. Hype, Hype and Hype.

Não estou, como parece, defendendo a banalização, simplesmente porque duvido de sua existência. A arte é a mesma sempre. A única arte emancipadora e transcendental foi a pintura que aquele primeiro homem, consciente de seu dever de educador, fez da própria caçada, e ensinou seus filhos. O mesmo homem que soprando um pau oco fez música e descobriu que ela atrairia, por semelhança de sons, algumas aves que serviriam de alimento à família. De lá para cá, a arte é consumo. A Capela Sistina foi financiada pela Igreja Católica corrupta, a alta sociedade germânica pagou por cada nota de Mozart, Machado de Assis ficou rico escrevendo. O que eu critico é o ímpeto com que certas pessoas, sob o manto da superioridade, criticam aqueles que perceberam que no fundo, a arte nunca foi outra coisa senão uma maneira mais saudável de repor as forças, após um dia estafante de trabalho.

De minha parte continuarei a ler Gullar, assistir a Anderson e ouvir Morrissey. Não que eu negue completamente a turma do primeiro grupo, eles também são legais, mas eu me acostumei, de ser intelectualóide chato, àqueles que antes eu imaginava serem a única forma de arte possível. Hoje eu mudei, minha aproximação com arte não! Sem qualquer relação com qualidade, porque isso pouco importa. Questão de gosto... só de gosto... Sejam felizes.

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