domingo, 17 de fevereiro de 2008

Ilusão (Ato I, Cena III)

Ato I, Cena II.

Enquanto Ana e Júlio fingem conversar, Sérgio volta de pijama, carregando a poltrona e se senta no fundo, de costas para os outros dois, retira um telefone do bolso e começa a falar.

Sérgio

Não Mãe, eu não entrei porque estava cansado, falei pro pai... Precisava vir pra casa, tomar banho. No Domingo eu faço uma visita...

Júlio (enquanto Sérgio ouve o que sua mãe diz)

Eu não aguento mais o Sérgio, Ana. Ele não fala coisa com coisa, vive às custas do pais... Parece que tem quinze anos.

Ana


Gosto da inocência dele.

Júlio

Babaquice é o nome disso... No começo eu dava risada, mas tem hora que estressa! Tô pronto pra (soltando o volante e fazendo o gesto com os dedos, de aspas) "demitir" ele, se dá pra falar isso.

Enquanto se vê Ana com cara de desaprovação e argumentando em voz baixa, Sérgio continua:

Fica tranqüila, mãe. Eu e o Júlio estamos vendo uma coisa bem legal, dessa vez vai... O quê?... Claro que eu confio nele, mãe. Tá doida? O cara é meu amigo faz o quê? Dez anos? Então... A gente tá junto nessa.

Ana

Digo e repito! Não é certo isso. O Sérgio é um cara legal (enquanto no fundo Sérgio gargalha).

Sérgio (Falando e rindo)

Tá me chamando de veado? Que isso, mãe? Eu gosto é de mulher... Aliás, conheci uma garota incrível. Educada, bonita,. acho que vou convidá-la pra sair... Quê?... Ah! Chama Ana...

Júlio (estacionando o "carro")

Posso subir um pouco? Estou sem sono e...

Ana (Rindo e saindo do "carro")

Eu sei o que você quer... Entra! Tem camisinha?

Júlio (saindo também)

Tenho (abrindo a carteira)... Só uma coisa, não fala nada pro Sérgio desse nosso "esqueminha", hein. Acho que ele gosta de você... sei lá. O jeito que ele te olha...

Ana (Enternecida)

A que bonitinho, o Sérgio?! Sabe que eu nem reparei?


Os dois retiram-se pela esquerda carregado as poltronas. Sérgio desliga o telefone, empurra sua poltrona para o lado direito do fundo do palco e se deita sobre ela.


Ato I, Cena IV.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Das raízes sólidas

- Seu namorado é um bunda mole!
- Por quê?
- Onde já se viu? Deixar a mina sair sozinha?
- Cala a boca!
- É sério! Se fosse eu, não tinha disso não. Tá cheio de cara por aí que não agüenta ver uma mina sozinha e já pula em cima.
- Por isso que você não arruma ninguém. Seu ogro!
- Fala a verdade...
- Quê que tem? Pra dar certo tem que confiar, né?
- Besteira. E tem mais... O problema não o que a mina faz... é o que os caras fazem... ficam cercando. Chega a dar raiva, porra! Eu sinto raiva por você... por você e pelo banana do Cláudio.
- Ele não pediu pra você me vigiar. E nem eu pedi. Então pára com esse negócio que já tá ficando chato! Cadê aquele garçom?
- O que eu tô querendo dizer é que, se gosta mesmo, tem que cuidar, caralho!
- Pára, Ivan!
- Mas Juliana...
- Garçom! Me traz uma tequila, por favor...
- Sim. Já trago.
- Mas... Você ficaria tranqüila se o Cláudio saísse sozinho?
- Claro! Se eu não acreditasse nele, não teria porque ficar. Ou teria?
- Sei lá. Tem gente que namora só pra não ficar sozinho.
- Com a gente não é assim. Tô com ele porque gosto. E ele também...
- Traz uma Skol pra mim, moço...
- A gente não trabalha com Skol. Serve Antártica...
- Tá gelada?
- Muito...
- Pode ser então.
- Já venho.
- Mas então, Ju... Eu sei o que você tá dizendo... Só que eu não acredito nessas coisas de confiança... Nada a ver, meu!
- Você vai morrer solteiro.
- Haha!
- Fica rindo, fica... Moço, já pode trazer a conta...
- Sim, senhora.
- Vamos embora?
- Vamos... Não agüento mais discutir com você...
- Porque você sabe que eu estou certo.
- Cada um pensa o que quer. Eu e o Cláudio... A gente não liga pro que os outros dizem. Por isso que dá certo.
- Faça o quiser...
- Exato.
- Vamos pra minha casa?
- Pode ser. Mas vamos pegar cigarro antes... Vai ter alguém lá?
- Não... Ninguém... O Alex foi pra Guarulhos, e o Marcelo está trabalhando essa noite.
- Ótimo. Eu morro de vergonha dos seus amigos...
- É porque você não consegue fazer nada em silêncio...
- Cala a boca!
- Hahaha! Tá aqui, moço... Fica com o troco.
- Obrigado.
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Image Hosted by ImageShack.usLerdo tem uma enorme dificuldade para entender os humanos. Mas não adianta dizer-lhe que isso é natural. "Nem nós humanos nos entendemos", eu expliquei certa vez, mas não adiantou. E ele insiste que esses diálogos tão corriqueiros merecem alguma notoriedade. Diz que é história das boas. Pobre furgão. Ele não sabe que há certas coisas que todo mundo já conhece.

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