sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Tropa de Elite: arte realista e fascismo psicológico

Ler Tropa de Elite. A nova profissão do intelectual (e do intelectualóide) é ler Tropa de Elite! Não apenas assistir a Tropa de Elite. Todos aqueles que julgam construir em conjunto a inteligência nacional já fizeram sua leitura. Pessimismo, Brutalidade, Exagero, Crueza, Estereotipia, Reducionismo, etc. Não convém aqui julgar Obra e Críticas, dada a exaustão dos procedimentos. Antes, é preferível se eximir de qualquer tentativa do novo. Não, esta crônica não tem novidades. Para que não se caia pelo efeito contrário em palavras vazias, a intenção é simples: Ler duas leituras já feitas. Longe de procurar rebater a opinião alheia, discordar por discordar, ou amargar na difamação a falta de criatividade própria, a intenção é simples: trazer até aqui dois termos que são usados diariamente para descrever o filme, e, a partir deles, tecer quaisquer comentários a respeito.

O primeiro é
fascismo. Dentre as várias publicações que aderiram com ou sem conhecimento de causa a essa nomenclatura, a que mais parece coerente é a de Marcelo Coelho (Folha de São Paulo, 10/10/07). Ausentando-se de análises da terminologia empregada, pessoas sérias são tentadas a afirmar um posicionamento que não é delas. Chamam fascistas as atitudes de Capitão Nascimento (e por continuidade o diretor do filme!!) sem o menor cuidado em observar o peso que aplicam a essas palavras. Comparam o policial a Stalins, Hitleres, Mussolinis, homens que tiraram a vida de milhões e milhões de inocentes dentro e fora de seus respectivos países, apenas por pensarem de maneira diferente. Fascismo é julgar o diferente sem dar-lhe inclusive a chance de revelar-se. Fascismo é argumentar no vazio contra aqueles que desmascaram um mundo de ovos arremessados janela abaixo. Fascismo é arremessar ovos janela abaixo. Fascismo é dar esmolas e roubar empregos! Marcelo Coelho, no entanto, procurou rever a conceituação. Homem correto e analista clínico do mundo que o cerca, o colunista evitou modismos e trouxe à tona o real fascismo do filme: o psicológico. Se há fascismo, e acredito que sim, é desse segundo tipo. Fascismo enquanto atitude destemperada, agressividade, destrutividade, obsessão pelo direção correta, etc. Um fascismo ao qual todos nós estamos sujeitos, e muito mais está um chefe de um grupo, nosso Capitão, disposto a dar a própria vida em prol da regulamentação de um mundo caduco, deturpado pela ação inescrupulosa de cidadãos responsáveis justamente por fazer o contrário daquilo que lhes é dado fazer: garantir a segurança. Fascista sou eu, é você, são todos aqueles que preferem ver eternamente atrás das grades um "bandido", a dar-lhe as mínimas chances para um re-socialização completa. O que Nascimento faz é simplesmente externar uma raiva, uma revolta que todos nós temos, mas escondemos atrás de nossas mesas de escritório. Enquanto assinamos folhas de demissão, Nascimento dá um tiro. Enquanto rimos das desgraças alheias, Nascimento tortura.

Um outro termo ordinariamente empregado é
realismo. "O filme é muito realista", "um realismo exagerado", "é de um realismo muito forte". Não percebem que "muito", "exagerado", "forte", não são aplicáveis a realismo enquanto manifestação artística. A arte realista é em si a busca pela adequação do objeto-obra ao mundo em torno do artista, numa representação a mais fiel possível. Um romance realista descreve a realidade que cerca a personagem, e a própria e previsível atitude dessa personagem frente ao mundo. Um quadro realista deve ser a perfeita fotografia, deve ser o que é a câmera, deve nos representar aquilo que qualquer olho sadio pode ver, ou deveria. Assim também é para o cinema. Realidade externa é realidade externa. Não há graus, não há níveis de realidade, não dá para ser mais ou menos realista. O que nossos analistas de plantão parecem querer é uma realidade atenuada que não nos ponha em estado de choque, que não nos dê vergonha por sermos o que somos, que não espante turistas, que minta para nós, que fantasie um realidade que é, perdão, apenas real sem adjetivações!

É possível que ambas as designações estejam corretas, e quero acreditar que sim. Mas se o filme é Fascista, é assim por ser Realista. Mostra a agressividade e tendência ao olho-por-olho que há em nossos corações, mas mostra porque é realista. Nos apresenta a raiva antes reprimida, que emana de nós mesmo, mas mostra porque, simples, é realista. Tão Fascista e tão Realista que me proibiu qualquer análise de termos técnicos – a direção extremamente ágil de José Padilha, a atuação como sempre impecável de Wagner Moura, a edição de Daniel Rezende que alterna cenas em ritmo vídeocliptico com outras quase mortificadas pela atmosfera de indecisão e medo que cerca a obra. Temos que considerar, porém, que Padilha, Moura e Rezende voltarão com certeza. Então faremos as devidos e rasgados elogios nos próximo trabalho que apresentarem. Para o momento, é mais sincero cometer a injustiça de falar apenas do filme em si, a obra em si, Fascista, Realista, um primor do cinema nacional!

6 Resposta(s):

Anônimo disse...

E ai Zè......eu só to comentando pq eu vi um comentario do Davi num dos texto aí...eu nem vi e nem quero ver esse filme, ainda mais depois de saber pelo seu texto que tem uma cena que eles jogam ovos pela janela, isso pra mim é mais fascista q realista(eu nem sabia q as pessoa faziam este tipo de coisa), mas sei lá é só uma opinião.

Aguardo ansioso por mais textos seu e comentarios do Davi.
bjinhos

Zé(d's) disse...

é um "fanfarrão"!

Unknown disse...

esse zézinho escreve tão bem...
enfim, esses intelectualóides de jornal as vezes me irritam por isso fico com a sua crítica, embora eu tenha ficado chocada com o filme da primeira vez..tentando achar razões no bop ou razões nos traficantes...e na verdade não é uma coisa nem outra.
beijo!

Anônimo disse...

é o mesmo filme que eu assisti? o.O

Zé(d's) disse...

provavelmente sim... mas cada um tem uma leitura

Anônimo disse...

Você é um babaca que chupa pinto de bandido...vai trabalhar no direitos humanos então.

Pela saco

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