Criacionistas diriam que o que nos diferencia dos outros animais são a semelhança e a imagem de Deus impregnadas em nós. Evolucionistas rebateriam atestando que a oposição está ligada à evolução do cérebro humano para o estado de consciência e saber, que suplanta a mera reação instintiva. E estando certos ou errados, há algo mais importante a se discutir. Independendo da teoria adotada, é preciso que se estabeleça as reais medidas dessas diferenças entre humanos e irracionais. Sendo, nós, seres de uma natureza outra (divina ou biológica), seria de se supor que responderíamos de maneiras diversas às constantes exigências mundanas. Se a explicação vale em determinados casos, há outros em que as semelhanças são tantas que é de se duvidar realmente do abismo entre razão e instinto tão costumeiramente considerado.
O psicólogo americano Skinner, embasado em teorias comportamentalistas clássicas, desenvolveu uma frutífera psicologia behaviorista, segundo a qual os humanos, como demais seres vivos, agem a partir de impulsos externos, produzindo uma resposta específica a cada exigência do meio. Disso para as notórias conclusões acerca da psicologia "prêmio & punição" é um passo. Em outras palavras, é natural que os homens ajam de acordo com as necessidades impostas (incluindo-se aqui as vontades do patrão, do professor, dos pais, etc.), sempre que forem presenteados com benefícios específicos nas atitude correta e castigados com a severidade conveniente quando agirem em desacordo com que foi proposto pelos dominantes. Nada muito diferente dos ratos laboratoriais que aprendem a não se coçar após alguns choques e a rebolar em rodinhas para consegui alimento.
Pedagogos, humanistas e psicanalistas consideram um disparate que essa teoria seja ainda aceita na sociedade pós-moderna em que vivemos. Julgam haver um enorme vão entre as atitudes do rato e a do homo-sapiens. Afirmam que é impossível descaracterizar o poder da mente (ou espírito) nas resoluções tomadas pelos indivíduos, e que, aceitando o behaviorismo, estaríamos retrocedendo e desconsiderando a evolução psicológico-social apresentada pela humanidade. No entanto, nem eu, nem qualquer outro freudiano é capaz de ver a mente, fotografar o inconsciente, dialogar com o Ego. Já as ações, essas saltam aos olhos. As contradições teóricas são aceitáveis. Mas "contra fatos, não há argumentos".
Qualquer cidadão que passou por um banco de escola no Brasil, já se deparou com os inúmeros recursos empregados pelos professores para conseguir controlar uma sala de aula. Não há melhor metáfora para o par "prêmio x punição" que os inúmeros "positivos" e "negativos" que preenchem os diários de classe dos mestres. Aliemos a isso outras experiências em sala de aula, como a ameça de ter sua nota diminuída em se persistindo o barulho. É o comportamento, e apenas ele. E as ameaças. Um prisioneiro que não se cala ante os destratos em uma penitenciária é advertido com uma semana em uma cela solitária "para ter tempo de pensar e repensar suas atitudes indevidas". Um operário receia participar de movimentos de greve sobre pena de perder seu cargo para um outro indivíduo mais suscetível aos desmandos do chefe, e aos baixos salários. Etc.
Não se trata aqui de discutir em que medida essas ações bloqueiam apenas as atitudes externas dos indivíduos. Poder-se-ia argumentar que essas ameaças possuem uma carga psicológica muito maior que aquela impressa no organismo. Não duvido. Mas seria, então, o caso de se pensar que os ratos de laboratório possuem também uma enorme carga psicológica para além dos movimentos instintivos! Não se trata disso. Sabe-se, por experiência, que uma vez retirado das gaiolas, e colocados em um ambiente que os prevaleça e em que não haja choques ou rodas, os ratos perdem, num curto espaço de tempo, os condicionamentos a que foram submetidos. Eis a diferença que até aqui não se esclarecia. Nós, os humanos, guardamos na consciência ou na alma (dependendo da filiação teórica) toda e qualquer situação desumana, destituída de moralidade e que, por isso obviamente, nos prejudicou. Uns o fazem para se vingar no momento propício, outros, para que os mesmos "erros" não sejam cometidos, e a dor não retorne. Seja por vingança, seja por medo, nós tendemos a não aceitar bem qualquer providência exterior que teime em nos tratar apenas como animais.