Quando aquilo que deveria ser o nosso descanso vira mote para auto-cobranças insuportáveis, é sinal de que perdemos a noção fundamental de "diversão". O homem que gosta de futebol, mas chuta mal, gosta de ler mas não escreve bem, gosta de música e não sabe o que é sustenido, pode, apesar de tudo, se divertir jogando, escrevendo, tocando. Se, em revide, nos entristecemos por encontrar um resultado aquém da genialidade, é porque não entendemos que nossa função social é outra, ou porque sonhamos em ser alguém que não somos. Ou seja, um excelente médico não deve querer que seu passe de canhota esteja à altura de sua precisão clínica. Caso contrário, seu lazer e sua chance de extravasar minimamente uma rotina estressante perdem-se em meio a encanações que sequer deveriam ter existido.
Se damos vazão a cobranças indevidas, em lugar de nos alegrarmos com o bom cumprimento de nosso papel, perdemos de vista as nossas inúmeras qualidades, em detrimento de possíveis defeitos provocados (entre outras coisas) por uma falta de determinada aptidão. Nada mais natural. Ninguém é bom em tudo, e saber escolher o caminho certo é a primeira das virtudes necessárias para a felicidade. Muitas pessoas são obrigadas a desistir muito tarde de um sonho quando, se orientadas a tempo, poderiam estar colhendo já os frutos da correta opção. Jogadores, muitas vezes, passam por vários clubes antes de descobrirem que os milhões da profissão estão muito mal distribuídos. Felizmente para os escritores de boteco e músicos de garagem o desgaste é menor. O que os permite levar uma vida dupla, a dos sonhos (ainda que sem o glamour desejado) e a real (que dá dinheiro).
Podendo ganhar dinheiro e sobreviver de outra forma (às vezes até com luxos), os músicos de
